CRUZADA DOMINGUEIRA







Fotografia Corredor das Tropas, Cassiano Eduardo Pinto, 2004.



Cassiano Eduardo Pinto


Minhas retinas beijam uma face trigueira em uma manhã domingueira, destas em que o azul do céu contrapõe o verde imponente de copadas araucárias. Uma manhã domingueira, que nem o vento se atreve a acordar as folhas dos capões de guamirim, que seguem no sono da madrugada. Uma gralha sentada no galho parece um pedaço do céu que escapou do firmamento, e serena descansa na sombra tranqüila do caponete.
Esta tez matinal é rompida pela silhueta morena que cresce a cada pisada do mouro.
Meio sestroso largo:
- Boenas Hermosa...
Recebo por regalo um sorriso faceiro, com um olhar de campo que traz a tenência da primavera. O mesmo olhar e o sorriso agora com um suave gesto saudando sem dizer palavras.
Solto as rédeas, e o mouro que a pouco redomoneio parece que entende o quadro desta moldura da manhã; e sereno troca orelhas na frente da porteira do corredor.
O silêncio destes segundos se quebra repentinamente:
- Apeie para um mate...
Penso no mate, num beijo prateado sorvendo as cismas deste índio xucro de queixo mal quebrado. Por certo esperando que este amargo destranque a goela, e solte as palavras que venho guardando há tempos com todo o zelo para esta querendona. Penso na distância, duas horas de tranco pelo corredor até a invernada do angico, entrego o chasque e troco de rumo:
- Gracias, no entardecer apeio!
O rubor da face, um até logo e a vontade de se aquerenciar no rancho.
O mouro responde aos ferros das chilenas e pataleia o capim mimoso.
Além do contrapasso do tranco o peito também sente a turumbamba das patacoadas do coração.
Quem sabe o mate com o amargo de sua essência adoce no fim de tarde dois sorrisos nesta querência; cevando sonho que há tempos já estão reculutados.
- Mouro parceiro tu que sustente o tranco porque o retorno já tem urgência.

P.S.: Para a Dona dos meus carinhos.

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